Li...
E fiquei a saber o que já sabia.
Que não tenho visto a vida passar.
Que não tenho dito mais vezes não, do que sim
E que por isso me sinto às vezes desalentado.
Com o desalento que me afoga e me retrai.
Até explodir num fogo de artifício, com fúrias de felicidade.
Para de novo, um dia, me refugiar no luto, na perda.
Do que se perdeu sem nunca sequer se ter conseguido.
Amo-te; amei-te; as duas coisas e muito mais. Tudo te diria, se fosse preciso.
E se valesse a pena.
Apenas porque em nada muda o que sinto ou senti.
Vera!...
Que força me traz de volta do refúgio onde me escondo e finjo que não vejo.
Porquê e para quê?
P.P.
julho 04, 2008
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8 comentários:
Obrigado pelo comentário simpático deixado no meu blog Literatura & Rio de Janeiro!
Recordações, amigo!
Quem as não tem?
Bom fim de semana
"Nunca se está só, quando há um passado a recordar!"
Ivo: eu é que fiquei contente por ter encontrado o seu Blog. Obrigada!
Vieira: pode continuar a comentar mesmo continuando "calado"!
Bons olhos te vejam.
La vie est vaine,
Un peu d’amour,
Un peu de haine,
Et puis—Bonjour!
La vie est brève:
Un peu d’espoir,
Un peu de rève
Et puis—Bon soir!
Ata, "arranhasse" eu o francês, e diria que não percebi nada! E "arranhando" nada, diria que percebi tudo!
Mas tem sonoridade e foi escrito na língua apropriada...dá para traduzir?
Rsrsrsrs
Vem, vamos tomar banho no rio, disse Vera Lúcia, com a evidente intenção de trepar comigo. Eu tinha dezesseis anos e estava louco por Vera Lúcia, mas tinha medo daquele rio. Ela percebeu e disse: não tem perigo, a gente fica naquela piscininha, até criança pequena brinca ali, mas hoje não vai ter ninguém, é segunda-feira, vamos logo. E eu fui, morrendo de tesão e ao mesmo tempo todo cagado, porque sabia de muitas histórias de pessoas que estavam na piscininha, bobearam e foram levadas pela correnteza, direto pra cachoeira de Deus Me Acuda, um pouco mais adiante, logo depois de uma curva do rio, uma queda livre de quase cinqüenta metros, muito bonita de se ver, mas lá de baixo, fazendo piquenique, e não caindo na direção da morte certa. Vera Lúcia caminhava pela trilha à minha frente e, cada vez que eu pensava em inventar uma desculpa qualquer e desistir, ela sacudia a bunda, dava pra ver o começo do reguinho, porque ela, sacana, tinha baixado bem a saia. Chegamos na piscininha e ela logo tirou a roupa. Estava com um biquini bem pequeno. Eu fiquei de pau duro na hora. Vera Lúcia já tinha trepado com todos os meus amigos, só faltava eu, e eles contaram que tudo começava tirando ela mesma a parte de cima do biquíni e depois pedia que tirassem a parte de baixo, já dentro d'água, já com os corpos se tocando dentro do rio, o rio que levava as pessoas pra a cachoeira de Deus Me Acuda. Ao mesmo tempo, eu pensava, todos os meus amigos sobreviveram, estão aí, contando vantagem, falando das delícias de trepar na piscininha com Vera Lúcia, enquanto as histórias de gente carregada pelas águas eram casos obscuros, não lembrava do funeral de uma pessoa conhecida, de carne e ossos molhados e esmigalhados, dentro do caixão, sendo levada para o cemitério. Naquela época, as pessoas morriam de ataque do coração ou dos nervos, fora uma que outra picada de cobra ou pastel do bar do Henrique. De modo que, quando Vera Lúcia tirou a parte de cima do biquini e entrou na piscininha, eu já tinha decidido que iria trepar com ela. Ela sorriu, boiando de costas, e disse que a água estava quente. Mas eu não entrei, fiquei ali, de pé, vestido, hipnotizado pelos peitos de Vera Lúcia, que afloravam do rio como duas pedras brancas, os bicos apontando para o sol forte do dia vinte e dois de dezembro. Ela disse: tira a roupa. E eu tirei, fiquei só de cueca. Ela disse: entra. Mas eu não entrei. Lembro de ouvir o som dos passarinhos, uma buzina de um carro passando bem longe e o rumor das águas despencando na cachoeira de Deus Me Acuda, logo depois da curva do rio. Vera Lúcia disse: não tem perigo, e, como se quisesse provar a segurança da piscininha, tirou a parte de baixo do biquíni e atirou em mim. Riu quando me abaixei, depois jogou a cabeça pra trás e continuou boiando, agora de olhos fechados, com os cabelos e os pentelhos, ambos muito pretos, formando duas manchas escuras sobre a água transparente. Eu percebi que ela se afastava um pouco da margem, abandonando as águas paradas da piscininha, e gritei: cuidado! Ela levantou a cabeça, sorriu e tentou nadar de volta, primeiro uma braçada preguiçosa, depois uma mais decidida, depois uma sucessão de movimentos desesperados, contra uma correnteza muito mais forte que ela. Vera Lúcia tentava se agarrar nas pedras, tentava nadar, tentava caminhar, mas não ficava de pé, logo caía e seguia adiante, envolta na espuma do rio, o rio que levava pra cachoeira de Deus Me Acuda. Eu fui caminhando pela margem, lembro de procurar um galho pra estender pra ela, mas nós dois sabíamos o que iria acontecer, ninguém gritou, ninguém pediu socorro, na verdade ficamos nos olhando o tempo todo, e eu tenho certeza que a gente se apaixonou naquela hora, que as trepadas com os meus amigos tinham sido só brincadeira, mas comigo seria diferente, talvez a gente começasse a namorar, pode parecer bobagem, mas pensei em como seriam meus filhos com Vera Lúcia, enquanto ela rolava na água do rio, bem perto da curva que escondia a cachoeira de Deus Me Acuda. Subi correndo um morrinho, a tempo de acompanhar os últimos movimentos de Vera Lúcia, já depois da curva. Ela não lutava mais, agora se deixava levar, mantendo apenas a cabeça pra fora, e sempre olhando pra mim, calada, resignada, nua, os peitos brancos aparecendo de vez em quando no meio da espuma e da água brilhante. Não ouvi nada quando ela caiu, nem grito, nem o som do corpo batendo lá em baixo, foi como se tudo continuasse como antes, mas não continuava, porque uma parte de mim também caiu na cachoeira de Deus Me Acuda. Hoje, tanto tempo depois, sempre que penso em Vera Lúcia, o que é mais freqüente do que desejaria, a primeira imagem que aparece é aquela da piscininha, ela boiando nas águas tranqüilas e pedindo pra eu entrar. Eu não entrei, não trepei com Vera Lúcia, não caí com ela na cachoeira de Deus Me Acuda, e isso me parece um bom motivo para fumar um baseado, tomar um vinho tinto e me arrepender amargamente.
O lobo mau
Que Lobo Mau é esse? E que Vera Lúcia é essa?
Esse texto foi escrito pelo cineasta brasileiro Carlos Gerbase. Nada de plágio!
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