outubro 28, 2008

O Calimero e o tio da Bahia


Encontrei-os aqui, ao pé das minhas paragens. Tomamos café, no sítio do costume. Trocamos as palavras habituais. Conversas repetidas, sem grande interesse.
Anos atrás, os encontros com o tio da Bahia eram encontros felizes.
Momentos de alegria, de risada, de histórias engraçadas da Bahia, de S. Salvador, do vizinho Jorge Amado, do Pelô, da D. Canô, das outras mães de Santo, do Candomblê, de tanta coisa!
Agora os encontros com o tio da Bahia deixaram de ser encontros felizes.
O tio envelheceu e já não sabe contar as suas histórias.
Ele não deve sequer saber que contava histórias.
Está perdido na sua ausência.
Tem o olhar distante, despido de qualquer entusiasmo.
A velhice, no seu lado mais cruel, bateu-lhe à porta e entrou, à bruta, sem lhe pedir licença ou autorização.
Chegou sem se fazer anunciada, veio repentinamente, sem o preparar para tal.
Na mais profunda solidão de um português da Bahia que não casou, nem constituiu família.
Resta-lhe a bondade e a ternura do seu Calimero.

2 comentários:

Anónimo disse...

Olá. Aqui está um alerta para todos os idosos que vivem sós. Outrora figuras interessantes e cativantes, mas que não resistiram ao processo de demência, por vezes mais acelerado em alguns casos. Não sei se será o caso em questão.
A familia terá que ser bem sólida, disponivel e com grande capacidade para manusear este grupo de pessoas. Não é fácil. Os homens habitualmente morrem mais tarde, e nesses casos, as mulheres são o seu grande suporte...
Os homens solteiros e divorciados são uns verdadeiros sem abrigo...
Como Assistente Social lido com muitos casos. Lá vão para os lares e aí acabam por "suicidar" os últimos neurónios restantes.
VALE A PENA PENSAR NISTO!!

Anónimo disse...

Perdão!!! Os homens morrem habitualmente mais cedo (corrigir pf). Obrigada