outubro 02, 2008

A crise americana

"O seu Zé tem um bar, na Vila Carrapato, e decide que vai vender cachaça "na caderneta" aos seus leais fregueses, todos bêbados, quase todos desempregados. Porque decide vender a crédito, ele pode aumentar um pouquinho o preço da dose da branquinha (a diferença é o sobre preço que os pinguços pagam pelo crédito).

O gerente do banco do seu Zé, um ousado administrador formado em curso de emibiêi, decide que as cadernetas das dívidas do bar constituem, afinal, um ativo recebível, e começa a adiantar dinheiro ao estabelecimento, tendo o pindura dos pinguços como garantia.

Uns seis zécutivos de bancos, mais adiante, lastreiam os tais recebíveis do banco, e os transformam em CDB, CDO, CCD, UTI, OVNI, SOS ou qualquer outro acrônimo financeiro que ninguém sabe exatamente o que quer dizer.

Esses adicionais instrumentos financeiros, alavancam o mercado de capitais e conduzem a operações estruturadas de derivativos, na BM&F, cujo lastro inicial todo mundo desconhece (as tais cadernetas do seu Zé).

Esses derivativos estão sendo negociados como se fossem títulos sérios, com fortes garantias reais, nos mercados de 73 países.

Até que alguém descobre que os bêbados da Vila Carrapato não têm dinheiro para pagar as contas, e o Bar do seu Zé vai à falência. E toda a cadeia sifudeu !

Viu... é muito simples...!!!"
A Crise Americana.
Versão brasileira.

5 comentários:

Anónimo disse...

Tu és tão gira...e tens tanta graça Vap!!!

Anónimo disse...

Excelente!!!

Anónimo disse...

Olá Vera. Não te conheço, apenas vi o teu rosto no jantar de férias em Vila do Conde.
Gosto do teu blog e dos teus comentários.
Manda sempre
Um abraço

VAP disse...

Muito agradecida.
Esse último anónimo que não me conhece, mas sabe que sou Vera, deve ser muito engraçado.

ATA disse...

Queria aproveitar esta POSTa de pescada para dizer que...

Esta historia fez-me lembrar a do Zé timorense e os transportes públicos, uma narrativa que li algures tão bem alinhavada como esta, num certo blog...

"Grande" anónimo, toda a gente o conhece... é apanhado a léguas, até pelo mais leviano e desprendido leitor...
É verdade, esta personagem que prospera e prolifera cada vez mais, não dá a mínima chance a qualquer um de nós, meros rotineiros sobreviventes, no que concerne ao conhecimento absoluto das partículas constituintes do nosso universo...