março 07, 2009

O Principe, a Rosa e o Taj Mahal


Recordo aquele dia em que fui à casa da Rosa. Uma casa nova construída sobre uma casa de campo, muito antiga.
Daquelas casas de aldeia do início do século passado.
Não era a casa de sonho dela. É certo.
Ela até tinha um terreno excelente, no centro da freguesia, para construir a casa dos seus sonhos.
Um terreno que, segundo ela, dava até para construir duas casas de quatro frentes.
Mas decidira fazer a vontade ao marido. Era a casa onde ele tinha nascido. A casa dos pais. E ele tinha muito gosto nela.
Ele gostava daquela casa como um princípe gosta do seu palácio.
Ela detestava a casa. O buraco onde estava implantada e a falta de condições da mesma.
Mas a Rosa, pelo seu Princípe, fez dessa casa o seu Palácio.
E com as economias de uma vida inteira de sacríficios, lá foi construindo passo a passo o seu Palácio.
Cada tijolo, ali colocado, cada parede, cada detalhe foram feitos pelas mãos da Rosa e do seu Princípe.
Anos e anos sem férias, anos e anos de trabalho a ocuparem os momentos de lazer na construção da sua casa.
Todas as economias estavam ali. No chão que se pisava, nas guarnições das portas e das janelas, nas louças, na cozinha.
Os cortinados pagos com as gorjetas de motorista de longo percurso. Quando o seu Princípe levava as pessoas a viajar, por essa Europa fora, Paris, Amesterdam, Madrid. Sim, porque ele chegava a ganhar mais com as gorjetas do que de ordenado.
Pagavam muito mal e ele andou nessa vida mais de 30 anos. Afastado dos seus, por longos períodos de tempo.
Mas dessas viagens trazia sempre boas gorjetas, depois de descontado o valor do presente que sempre comprava para a Rosa.
É que a Rosa colecciona perfumes. Tem dezenas de perfumes. Intactos. Não os usa, porque não sai. Mas ela adora. Os frascos, a cor, o cheiro se calhar também. Tem todos numa vitrine, especialmente adquirida para o efeito.
Dizia-me a Rosa, no dia em que fui a casa dela, que agora, aproximando-se a reforma, o que queria era um tempinho para dar uns passeios com o seu Princípe. Que adorava viajar, mas nunca tinha ido a lado nenhum.
A reforma chegou. Agora. Este ano.
O seu Princípe morreu hoje, sábado, às seis da tarde, no IPO.
O seu Principe era o meu Querido Primo Manuel.

6 comentários:

o sibilo da serpente disse...

O destino tem destas coisas, não é?

Anónimo disse...

Sinto muito o que aconteceu ao seu primo! Sofria e agora tudo terminou...
Ao contrário do Taj Mahal, este foi contruido pelo principe em memória da sua princesa amada,no local do seu túmulo.
Um pouco diferente VAP. Contudo quero concluir que já não há homens destes apaixonados pelas suas esposas queridas...
Mais um estrela no céu a brilhar...o seu primo Manuel!
Um abraço para a D. Rosa

Anónimo II

:.tossan® disse...

Um texto brilhante mesmo, uma belíssima photo mas fiquei muito triste como você. Tenho uma parente no Porto que o marido fazia a mesma coisa que Manuel e teve um final parecido! Mais também deixou o seu palácio! Abraços amigo

Castanha Pilada disse...

Bolas Vap, que história triste! Nem sei que diga...
Um beijo...

Anónimo disse...

Foi o amor ao seu Principe que a fez viver em felicidade e lhe permitiu construir o seu "Taj Mahal". Uma história bonita, pois então! O final é vulgar, igual a todos os finais da nossa existência.
Porque olham apenas para o fim?
E nem reparam na história bonita...

VAP disse...

O Taj Mahal é o templo do amor.
Tal qual a casa do meu primo.
Lamento que aí o anónimo considere diferente e tenha vindo com explicações.
Por acaso alguém aqui pediu explicações?